O BORRACHEIRO E OS GRAMPOS
Havia
no reino da existência uma terra que parecia de ninguém, todos que nela
chegavam se apossavam sem justificar de onde vinham, a origem dos seus bens, e o
que queria. Ali faziam suas vidas no mistério de origem.
Num desses tempos
perdido em um lugar sem dono, apareceu um casal misterioso que se instalou no
meio do nada, e construiu uma palhoça com o material que tinha por ali.
Pensaram numa
venda de comida, isso sabiam fazer bem, mas quem iria comprar, se não havia
quem por ali passasse. Pensaram em construir uma estrada, e logo receberam
ajuda dos seus compatriotas.
Em pouco tempo
estrada feita, venda erguida. A estrada encurtava caminho, mas poucos eram os
que paravam na sua venda. O negócio não lhe rendia.
Pensou, como
pensam os seus de origem, num jeito de obter lucro fácil, e naquela estrada de
terra mandou construir um barreiro logo após o seu ponto de venda. Jogou água,
criou lama e o passar ficou lento. Um carro de cada vez. Se chovia o negócio
prosperava, se não chovia ele contratava carroças d’água dos seus comuns, e o
negócio ressurgia.
Assim o homem
do outro lado do mundo fazia fortuna, mas a riqueza não era só sua. Uma parte tinha
que mandar de volta ao país de origem, e outra parte dividir com os
companheiros das carroças.
Um dia, porém,
o tempo mudou, e quem estava cansado de parar no barreiro e gastar na única venda da estrada se sentiu explorado,
e pediu mudança. Mudanças vieram: fechou-se o barreiro, asfaltaram a estrada.
No novo tempo
os carros não mais paravam na tenda da exploração, tinham encontrado caminhos
melhores para seguir.
Sem saber o
que fazer com a queda das vendas, apelou para os agora, caçambas d’água, e em
palácio secreto resolveu confabular com os seus maquiavélicos pensadores.
Ideias de gênios do mal fervilharam na reunião, e a mais cruel foi instalada: A
Borracharia.
A venda de
comida foi fechada. Instalaram uma borracharia. Veio equipamento, materiais, e técnico do país do invasor. Tudo pronto era
só começar a trabalhar.
Não havia
trabalho. Os carros não paravam, o progresso matava a economia do borracheiro.
Nova consulta
ao grupo maldito. Agora o plano era perfeito.
Sem pressa
preparou o equipamento, ampliou instalações, trouxe os seus compatriotas,
montou sua equipe. Agora era só esperar o resultado, os grampos já haviam sido
instalados na estrada.
Não demorou a
se amontoar carros de pneus furados. Os mais atingidos eram os mais velhos, pois
eram mais frágeis, os mais novos resistiam e chegavam às borracharias das
cidades vizinhas.
Espalhou-se
pânico e terror, ninguém poderia mais passar por outras estradas, todos
bloqueadas. As outras borracharias foram fechadas, material confiscado,
borracheiros presos. Os remendos alternativos não eram permitidos.
Ninguém mais
consertava, só o borracheiro da estrada dos grampos.
Como já sabia
dos grampos, não faltou material, até já havia negociado com seus compatriotas
as imensas remessas de compressores, remendos, pneus novos e tudo mais, tudo
superfaturado, com a devida comissão aos seus apoiadores.
Queriam acabar
com quem mandou fazer o asfalto na estrada...
Mas o tempo
novo mostra que ainda há muitas estradas para serem asfaltadas, e muitos
grampos para serem recolhidos.
Lucarocas
Mestre da Cultura
Fortaleza, 23
de abril de 2020.
Lucarocas (85) 99625-4731
(WhatsApp) mestre@lucarocas.com.br
– www.lucarocas.com.br
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